O QUE CAUSA INCÊNDIO EM UMA ESCOLA E AS RELAÇÕES DE CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS

Fonte da imagem: https://blogdobarreto.com.br/em-meio-a-violencia-desenfreada-politicos-discutem-assuntos-que-nao-interessam-ao-povo/

Causa é aquilo que dá origem a alguma coisa. Consequência é o resultado de uma causa. Causa gera consequência. Portanto, em se tratando de uma escola, precisamos refletir sobre as relações de causas e consequências das políticas educacionais.

Iniciamos com a seguinte pergunta: o que causa incêndio em uma escola?

Seria o curto-circuito em algum aparelho? Não, isso é consequência da falta de uma política de adequação, manutenção e conservação das instalações elétricas.

Seria, então, a falta de responsável técnico? Não, isso é consequência das contratações (irregulares) de “amigos” dos gestores escolares.

Seria, então, incompetência da gestão? Não, isso é consequência da falta de democracia na escola: gestão pouco ou nada participativa e/ou ausência de eleição direta para diretor de escola.

Seria, então, irresponsabilidade do Conselho Escolar? Não, isso é consequência de o conselho possuir apenas caráter consultivo, e não mais deliberativo, além de ser cooptado pelo presidente nato do conselho – o próprio diretor.

Seria, então, falta de investimento? Não, isso é consequência da falta de um conselho deliberativo, cujo presidente seja de fato eleito por seus membros.

Seria, então, culpa do secretário, por não construir uma política de gestão democrática no chão das escolas? Não, isso é consequência de uma política da prefeitura que não admite liberdade de expressão dentro dos espaços escolares e/ou persegue professores por colocar cartazes, cujo senso crítico aponta contradições da ideologia neoliberal.

Seria, então, culpa do prefeito, por implementar a lógica neoliberal / meritocrática, não permitindo que a comunidade escolar reflita sobre seu próprio projeto político pedagógico (PPP). Não, isso é consequência da luta de classes, onde, nesse momento histórico, a correlação de forças não favorece aos trabalhadores.

Seria, então, falta de organização dos trabalhadores, por não rasgar o véu da alienação e contrapor a opressão da classe dominante? Não, isso é consequência das condições objetivas que condenam as massas priorizar seu tempo para a sobrevivência imediata e/ou morrer na guerra ao narcotráfico.

Seria, então, culpa de um estado que mata trabalhadores? Não, isso é consequência da política de segurança pública, que não consegue descobrir quem mandou matar a vereadora Marielle Franco.

Seria, então, culpa da Marielle? Não, de jeito nenhum, ela foi vítima desse sistema!

Seria, então, culpa do sistema capitalista, que mantém a escola pobre para pobres aceitarem a pobreza? É isso, encontramos mais do que a causa, adquirimos consciência política.

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HOJE EU SONHEI COM VONTADE DE REPRODUÇÃO

Fonte da imagem: https://praticassocioeducativas.blogspot.com/2014/09/reproducao-cultural-e-reproducao-social_29.html

Hoje eu sonhei com vontade de REPRODUÇÃO, de defender o patrão com total servidão. Se o sistema não é bom, pior não vai ficar, então melhor é continuar como está;

Sonhei que era insensível ao grito de Ana Paula (mãe de Jonhatha): “a dor de ter meu filho assassinado com um tiro nas costas. Essa luta não pode ser só minha”.

Sonhei que estava sozinho, em praça pública, gritando MERITOCRACIA, DESIGUALDADE, DETESTO POBRE;

Meus companheiros/as, indiferentes aos descasos dos governos, questionando o porquê de tantas assembleias de sindicatos e associações de moradores;

Os pragmáticos sendo enaltecidos por priorizar as tarefas imediatas (alienadas);

Os adeptos das pautas identitárias, dividindo forças na luta de classes;

Os comunistas, ilustres desconhecidos, perseguidos por “comerem criancinhas”;

A educação pública sendo pautada pelo movimento “Escola sem Partido”. Deputado Nikolas Ferreira Presidente da Comissão de Educação da Câmara;

A segurança pública como instrumento da necropolítica;

Os cristãos fazendo arminha. Negacionistas “explicando” os malefícios das vacinas;

Os neoliberais (meritocráticos) fazendo valer o espírito de competição em todas as áreas, pois essa sociedade não é para todos/as, apenas para os mais “esforçados” (homens, héteros, branco e ricos);

Os gestores públicos assumindo postura de “neutralidade” na luta de classes;

Todos os parlamentares “mitando” nas redes sociais. Política não se discute. Raízes do Bolsonazifacismo em nossa sociedade;

A democracia representativa inibindo a participação/organização dos trabalhadores em todos os cantos da cidade;

Pesadelo do pessimismo da razão!

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HOJE EU ACORDEI COM VONTADE DE REVOLUÇÃO

ARQUIVO 11/09/2017 ALIAS Lenin discursando no período pré-revolucionário (CRédito: Editorsa Zahar)

Hoje eu acordei com vontade de REVOLUÇÃO, de unir a foice e o martelo contra o patrão;

Acordei com vontade de gritar JUSTIÇA SOCIAL, IGUALDADE, FIM DA PROPRIEDADE PRIVADA, e da minha voz ecoar nas massas;

Meus companheiros/as, indignados/as com os descasos dos governos, lotando assembleias de sindicatos e associações de moradores;

Os pragmáticos, percebendo os fundamentos epistemológicos, discutindo dialeticamente os rumos dos movimentos sociais;

Os adeptos das pautas identitárias, reconhecendo que somos todos/as trabalhadores/as e que nosso inimigo comum é quem não trabalha e/ou não precisa trabalhar para viver;

Os comunistas, com orgulho, cantando A Internacional com todos/as irmãos/ãs trabalhadores/as mundo à fora;

A educação pública ampliando a consciência de classe;

A segurança pública indo atrás de quem lucra com a guerra ao narcotráfico;

Os cristãos seguindo, de fato, os ensinamentos do Cristo;

Os neoliberais (meritocráticos) constrangidos pela consciência crítica da cooperação x competição;

Os gestores públicos assumindo posição na luta de classes;

Todos os parlamentares, a exemplo da vereadora Luciana Boiteux (PSOL), prestando contas de seus mandatos e dialogando com toda gente;

A verdadeira democracia participativa tecendo redes em todos os cantos da cidade;

E eu me vejo flutuando em uma densa névoa vermelha… Daí me dou conta de que ainda não acordei. Talvez apenas um sonho (lúcido) que se sonha junto.

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PROJETO DE VIDA

Construção coletiva – turma 1001 – Prof. Roberto

Felicidade de quem tem um projeto de vida
Um futuro melhor exige sonhar e lutar
É um plano importante que motiva
A cada dia desafios a superar

Reflexões sobre a vida e como agir nela
É sobre transformar sonhos em realidade
Como ser escritor, diretor e ator de novela
Definindo seus objetivos e metas com longevidade

Projetar um futuro melhor, não depressível
Um plano que você cria para si mesmo, sem se isolar
Arquitetar um novo mundo possível
É saber aproveitar a vida escolar

Há quem diga que não chama a atenção
Que não representa nada
No futuro pode ser, mas hoje não
Será preguiça de pensar sua própria jornada?

Matéria que, se bem estudada,
fornece grande benefício futuro
Quem fizer um projeto de vida bem elaborado,
provavelmente atingirá o objetivo de enxergar no escuro

Eu quero fazer a diferença
No mundo em que eu vivo
Quero deixar a minha essência
E um legado positivo

Eu sei que não é fácil
Alcançar o que eu desejo
Mas eu não me deixo abalar
Pelo medo ou pelo desprezo

Eu busco aprender e crescer
Com as experiências que eu vivo
Eu procuro me conhecer
Dialogar e me expressar com sentido

Poder projetar o que vamos fazer da vida
Nos dá força e esperança
É uma missão que nos guia
Nosso futuro comum a cada nova andança

É sobre construir uma vida plena e significativa
Costurar nosso projeto de vida com respeito ao próximo
Traz a possibilidade de conceber e plasmar iniciativa
Nosso projeto de vida coletivo importantíssimo

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ENTÃO É NATAL (2023), E O QUE VOCÊ E EU FIZEMOS?

Governo vem, governo vai
E a escola pública continua partida
Estudante passa, estudante sai
E o povo continua votando em fascista

Milei eleito com desrespeito
Trump ressurgindo das cinzas
Inelegível fazendo campanha com pré-conceito
E o que fizemos diante das incertezas?

A Eja tem encantos permanentes
Nem mesmo a aposentadoria será capaz de apagar
Respeito e aprendizado docente
É fácil aprender com quem está disposto a ensinar

É fácil ensinar para quem quer aprender
Ouvir o que não é dito, nosso desafio do céu
A escola é chata, eu não quero escrever!
É difícil entender o anjo Gabriel

Aula na Eja é participação
No Brasil, estudante é coisa rara
Atenção, reflexão e ação
Renan, tu és o cara

87 anos de história
Inspiração cativante
Força, foco e vitória
Teu nome é José Estudante

Poesias periféricas tem o poder
De melhorar a vida dos que agem
Com responsabilidade na tarefa de escrever
Descobrem o valor da linguagem

Aos estudantes queridos
Minha eterna gratidão
Aos colegas de trabalho adquiridos
Punho (esquerdo) erguido com vermelhidão

No pátio da escola, em uma bela manhã de primavera
O passarinho agoniza e morre. Esquecemos?
Morreu de alimentos ultra processados, a ciência pondera
Enterra o caso, foi o que fizemos

Nós povo já nascemos pobres (na cela)
Porém, não nascemos livres (da fome)
Na poética Liberdade, de Marighella:
“[…] se torturado for, possa feliz, indiferente à dor, morrer sorrindo a murmurar teu nome

Não faltou projeto, mas o político pedagógico é naftalina
Não faltou disposição, mas pela qualidade estamos ralando
Não faltou centro de estudos, mas não estudamos com disciplina
Não faltou operação policial, mas a insegurança continua assolando

Não faltou ação, mas a educação continua peça publicitária
Não faltou diálogo, mas dialética não combina com coca-cola
Não faltou antirracismo, mas ainda sem superação da pauta identitária
Não faltou PSE, mas é distante a saúde na escola

Não faltou engajamento, da humanidade, contra as guerras
Não faltou grupo de Zap, um pouco melhor que solidão
Não faltou violência contra as mulheres, inclusive nas palavras
Não faltou indignação, quando houve apagão

Não faltou discurso de ódio e mensagem sem noção,
Tudo bem se é piada ou até post sem graça
Mas a dúvida sempre recai, sobre as tentativas de desalienação, quando gera reflexão
Essa triste interação é pedrada na vidraça

Não faltou sala de aula quente e barulhenta,
mas os gestores (nível central) receberam 14º salário
Não faltou papel, caneta e nem ferramenta,
mas a educação especial não se resolve com voluntário

Faltou organização (política), mas seguimos esperançando
Faltou camaradagem, mas seguimos na luta
Faltou pão, mas seguimos, no circo, dançando
Faltou consciência de classe, mas nos educamos na labuta

Entre pássaros e gaiolas,
fica a certeza de que o canto dos pássaros
é capaz de destruir as grades das gaiolas
Dominar os donos das gaiolas (bárbaros)

Entre combustível das críticas e comburente do silêncio,
fica a certeza do dever cumprido nas promessas
Se não incendiamos a selva capitalista,
ao menos alimentamos o calor das massas

Entre professores e reprodutores de aulas,
fica o otimismo da vontade de uma revolução possível
Entre o letramento científico e o mundo das fábulas,
fica a intolerância e o fake news visível

Vim, vi e não venci, mas não me dobrei aos vencedores
Falei, chorei e adquiri uma fenda vocal, mas não morri (ainda) de depressão
Colaborei, produzi e critiquei mercadores,
mas foi pouco no sentido da nossa própria desalienação

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SE OS TUBARÕES FOSSEM HOMENS [Adaptado do texto de Bertold Brecht, de mesmo título]

Se os tubarões fossem Homens, eles organizariam a sociedade dos peixes em 2 grupos: peixes menores (nadadores) e tubarões (não precisavam nadar para sobreviver). De tal modo que, os poucos tubarões existentes manteriam, ora através da força e ora através da cultura, um fluxo constante de oxigênio e alimentos (os próprios peixinhos) chegando até eles. Nesse contexto, além dos meios de produção da própria existência, bem como dos peixinhos (maioria da vida aquática), os tubarões dominariam os mares e rios, mantendo as correntes marinhas e fluviais fluindo em seus próprios benefícios. Há quem diga que essa seria a verdadeira natureza dos tubarões, porém nem sempre foi assim. Historicamente, todos os peixes eram herbívoros.

Se os tubarões fossem Homens, eles mandariam peixinhos criarem leis. Tais regras diriam que todo peixe é igual, porém, na prática, os tubarões sempre levariam vantagem, já que eles dominariam os fazedores das leis, os canais de informação e comunicação, as polícias, os exércitos, e a sociedade de modo geral. Inclusive, os peixinhos não desconfiariam da dominação dos tubarões. Os peixinhos acreditariam nessa falsa liberdade, enquanto os tubarões engoliriam pouco a pouco enormes cardumes de peixinhos, que nadariam felizes para suas bocas, cantando “borbulhas de amor”. Nesse mundo de ilusão, os peixinhos duvidariam da ciência, que comprovaria a verdadeira intenção dos tubarões, mas teriam a certeza de que a corrupção e sofrimento é culpa dos PT (peixes-traíras). Também haveria religião, onde os tubarões escreveriam mandamentos, como sendo a vontade do Deus Netuno. Tais mandamentos ensinariam que o sofrimento levaria a vida eterna – na barriga do grande tubarão branco celestial.

Se os tubarões fossem Homens, não iriam de um canto para outro nas correntes dos mares, como todo peixe normal. Eles andariam em luxuosos iates, para não se misturar com a massa dos peixes. Afinal, alguns peixes nem acreditariam em tubarões, já que os tubarões ficariam escondidos no PL (paraíso liberal) ou no NOVO (naufrágio de oportunidade para vender opiniões), situados nas fossas abissais. Os peixinhos (doces) dos rios disputariam com os peixinhos (salgados) dos mares, para ver quem nadaria mais rápido. Os tubarões ficariam felizes ao observar competição entre os peixinhos, pois, quanto mais os peixinhos se de gladiavam, mais recursos os tubarões garantiam e acumulavam. Haveria prêmios para os melhores nadadores – lindas medalhas de algas, ornamentadas com coentro e pimenta, que aumentariam o apetite dos tubarões. Haveria também colaboração entre os peixinhos, porém toda solidariedade seria para manter os peixinhos dentro da correnteza que direcionariam todos ao mesmo sentido – engordar os tubarões.

Se os tubarões fossem Homens, eles fariam os outros peixes acreditarem no mito do peixinho salvador, capaz de trazer uma vida mais feliz para todos os peixes. Seria uma grande enganação, já que os tubarões usariam dessa estratégia apenas para manter os peixinhos desorganizados, sem discutirem um projeto de vida aquática elaborada coletivamente. Alguns peixinhos gritariam por REVOLUÇÃO, outros por REFORMAS, porém todos seriam rotulados como vermelhos e sofreriam duras sansões. Nesse sentido, os tubarões manteriam viva uma suposta ameaça vermelha, ainda que a maior parte dos peixinhos nem soubessem o que seria esse tal pigmento vermelho, como forma dos peixinhos não conversarem sobre qualidade de vida para TODOS os peixes. Os tubarões permitiriam que os peixes oprimidos construíssem escolas para jovens, adultos e idosos peixinhos, inclusive reservariam recursos para a criação e manutenção dessas escolas, como forma de conter a revolta dos peixinhos com tanta miséria e desigualdade. Essas escolas seriam bem diferentes das escolas dos tubarões. As escolas dos peixinhos ensinariam a nadar direitinho, com sensação de liberdade, preferencialmente sozinhos, sempre na correnteza dos rios e nas correntes marinhas, obedientes a lei e a ordem, e seguindo tradições e bons costumes. Enquanto nas escolas dos tubarões ensinariam a manter a estrutura social vigente, ou seja, manter os peixinhos nas correntes que levam diretamente as enormes bocas dos tubarões.

Se os tubarões fossem Homens, chegaria o dia em que não haveria correntes para tantos peixinhos e, aos montes, eles iriam morrendo em águas estagnadas, sem ao menos satisfazerem a farra gastronômica dos tubarões. Imediatamente, após esse dia, os tubarões perceberiam um sabor amargo na água, e também nos peixinhos, através de Floração de Algas Nocivas, também conhecida como Maré Vermelha. Nesse dia, os peixinhos tomariam consciência da sua condição de “nadador para bocas de tubarões” e nadariam segundo suas próprias direções. Nesse lindo dia, os tubarões reconheceriam que também são peixes.

Assim funcionaria o capitalismo aquático, se os tubarões fossem Homens.

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A SOLIDARIEDADE NA CONSTRUÇÃO DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO NAS ESCOLAS DE EJA: entre reformas, revolução e silêncio

Fonte da imagem: http://www.ivancabral.com/2009/03/charge-do-dia-nota-baixa.html

 

Por Roberto Eduardo Albino Brandão

 

Em uma simplória tentativa de sistematização das intervenções em reuniões de professores, ao longo desses meus 25 anos de magistério, com foco na participação em temas polêmicos, observo os reformistas, que acreditam em pequenos ganhos naquilo que se entende por qualidade na educação, os revolucionários que lutam por mudanças estruturais (dominar os dominantes), e os silenciosos, que se calam principalmente diante da opressão, seja porque desistiram de lutar e/ou não acreditam em classe dominante. Nesse contexto, com o advento do artigo 12 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB 9394-96), “Os estabelecimentos de ensino respeitando as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de elaborar e executar sua proposta pedagógica”, surge a obrigação (legal) desses profissionais da educação, junto aos estudantes e comunidade, em cada unidade escolar – UE, dispor do seu Projeto Político Pedagógico – PPP.

É evidente que esse processo de Planejar e construir um PPP, principalmente em escolas de Educação de Jovens e Adultos (EJA), onde os sujeitos foram privados do direito à escolarização, pressupõe diálogo, respeito ao pensamento divergente, diálogo, escuta atenta, diálogo, paciência histórica, diálogo, disputas ideológicas, diálogo, exposição de contradições e diálogo. Nesse sentido, esse texto trata da insistência no diálogo (sensível) em torno do PPP e poderia ser intitulado: “PODE PROFESSOR DA EJA FALAR? Considerações sobre a existência (ou não) do projeto político pedagógico – PPP”, a semelhança do capítulo de livro[1]: “PODE ESTUDANTE DA EJA FALAR? Experiências de jornal estudantil em uma escola pública periférica”, que segue os mesmos embates ideológicos refletidos nesse texto. Não pretendo entrar no mérito de como as escolas públicas e/ou seus gestores encontraram caminhos de apresentar PPP, como num passe de mágica, em atendimento estrito a sua obrigação legal, sem participação efetiva de toda comunidade escolar. Mas precisamos nos perguntar, o que é um PPP? Para Gadotti (1994, p. 579)[2], nesse processo dialógico de gestão democrática:

Todo projeto supõe rupturas com o presente e promessas para o futuro. Projetar significa tentar quebrar um estado confortável para arriscar-se, atravessar um período de instabilidade e buscar uma nova estabilidade em função da promessa que cada projeto contém de estado melhor do que o presente. Um projeto educativo pode ser tomado como promessa frente a determinadas rupturas. As promessas tornam visíveis os campos de ação possível, comprometendo seus autores e atores.

Seguindo essa linha de raciocínio, se considerarmos que todo PPP deveria romper com o tempo presente, e que o tempo antes da pandemia de covid 19 é diferente do tempo presente, é possível afirmar que o PPP, outrora construído, ainda existe? O que significa considerar um PPP com mais de 1 ano, ainda que sem proposta metodológica de revisitação/alteração/atualização, sem uma avaliação participativa (objetiva ou subjetiva), sem que se leve em conta o querer, o saber e o fazer de todos/as? O PPP está localizado na gaveta da direção da UE ou nos corações e mentes da comunidade escolar? Os reformistas e os silenciosos entendem que as realidades educacionais e sociais sofrem modificações? É possível falar que a escola tem um “PPP antigo”?

Penso que as respostas para essas perguntas estão em nossa capacidade de “co-laborar” coletivamente para a superação do sistema (capitalista). Esse sistema, repleto de determinantes sociais, tenta nos paralisar, embaçar nossa visão e atrapalhar nossa formação política. Ou seja, fugimos do debate franco e aberto, nos perdemos em conflitos interpessoais, e não discutimos o que realmente importa, que é a educação emancipatória de nossos estudantes. Para Rummert[3] (2011, p. 157):

Os alicerces de tal proposta pedagógica não se constroem no âmbito das ações em curso para a educação de jovens e adultos trabalhadores marcadas por um caráter subordinado aos padrões atuais de sociabilidade definidos pelo capital.

De fato, o que se observa nas escolas de EJA, é uma suposta solidariedade pragmática, principalmente no que é determinado pelos gestores. O PPP deveria originar-se, não como obrigação legal, mas como fruto de um debate fraternal e respeitoso de ideias, conscientes dos diferentes caminhos epistemológicos trilhados por todos/as em cada unidade escolar. Penso que tal amadurecimento político, principalmente no que se refere aos processos formativos no chão da UE define, em parte, a qualidade das ações desenvolvidas por cada UE. Como são os espaços formativos da sua escola, como por exemplo os centros de estudos – CE? Os professores pensam coletivamente sobre o que precisam saber para melhorar a qualidade do trabalho da UE? Há reflexões de caráter formativo e coletivo ou apenas questões pragmáticas acerca da burocracia escolar? Já ouviu falar em “CE individual”? Quem constrói as pautas dessas reuniões? Quem faz os relatos e como são disponibilizados/consultados? Qual o nível de envolvimento político dos docentes em defesa da EJA?

Para os revolucionários, é importante não mascarar os conflitos, mas evidenciá-los e explorá-los no sentido formativo, onde o PPP representa essa real possibilidade. Todavia, pensar as formas com que as discussões se dão, para além da metodologia de construção do PPP, precede o início de sua elaboração. Um dos problemas é a falta de DIALÉTICA. Como professor, ativista político em prol da EJA, noto, em reuniões “pedagógicas”, a falta do pensamento dialético. Nesse sentido, é importante considerar, em cada reunião pedagógica, que existem vários pontos de vistas (em disputa) sobre um determinado assunto, além das opiniões da equipe gestora da escola. A força resultante dessa disputa (luta) pode reforçar o lado dos trabalhadores ou o lado da classe dominante. Nesse sentido, a quem interessa a existência de um PPP de gaveta (que não dialoga com a realidade social dos/as estudantes)? Quem lucra quando um professor acusa outro de ser autoritário? A turma do silêncio sempre reforça o lado de quem está ganhando (hegemonia). Seria extremamente importante, na medida em que defendemos uma posição, também falar sobre como chegamos até aquele argumento, justificar os interesses (de classe) envolvidos, bem como aquele argumento se insere na LUTA DE CLASSES. Se, ao contrário, fizermos um debate aligeirado, desprovido de fundamentação e, além disso, considerarmos nosso companheiro de embate teórico, como um oponente/inimigo, rotulando-o com adjetivos desnecessários, certamente não avançaremos no debate dialético.

Portanto, não há luz no fim do túnel para a construção do PPP, que não seja o trem em sentido contrário para atropelar a classe trabalhadora. A realidade concreta mostra o caminho “moderno e espetaculoso” da alienação (visão superficial e distorcida da realidade), quando não atentamos para a comunicação dialética, produzindo e reproduzindo as mazelas sociais que tanto criticamos. Atribui-se mais atenção ao plano de gestão (da direção), ao plano de ação (de poucas mãos), do que ao PPP verdadeiramente democrático/participativo. E, com isso, vem o adoecimento/sofrimento mental, tão comum atualmente. Somos diversos, seja de direita ou esquerda, seja liberal, social-democrata ou comunista, seja religioso ou ateu, seja morador de favela ou do asfalto, tenha concluído a educação básica ou não, somos seres humanos em processo de humanização. Podemos até dizer que estamos no mesmo “barco”, porém, alguns ainda tentam (em vão) conter a entrada de água na rachadura do casco do barco, enquanto outros ainda não sabem que o barco está afundando, e que não há salva-vidas para todos. Ou seja, não nascemos humanos, nos tornamos humanos (ou não) nas interações (políticas) que fazemos. No caso da EJA, se entre professores já é conflituosa a interação, mais conflituosa ainda é a interação política entre professores, sobretudo os acríticos e os estudantes jovens, adultos e idosos, que trazem uma bagagem de “certezas” cristalizadas em suas historicidades e/ou a negação da política. É como trocar “óculos velho” por “dentadura quebrada” e continuarmos sufocados por reformas que modificam apenas a aparência. Assim, a solidariedade se dá apenas naquilo que é funcional ao sistema:

Seguindo as reflexões sobre concepções e análises de políticas públicas pelo viés marxista, bem como as suas metodologias, observa-se que algumas teorias se confirmam: a educação de jovens e adultos, como vem sendo hoje ofertada, é excludente e, para não ser radical, raramente é construtora de cidadãos críticos. Ao contrário, é uma forma bastante eficaz para manter o poder da burguesia e respaldada por políticas públicas, logo está legitimada pelo Estado – isto é, um Estado a favor do poder hegemônico que impede a emancipação da classe trabalhadora. (SILVA, 2020, p.19-20)[4]

Viver a luta de classes não é o mesmo que se posicionar (estabelecer estratégias coletivas). Viver a luta de classes todos vivemos, e sofremos com ela. Mas se posicionar significa pensar e agir com consciência de que fazemos parte da classe oprimida (trabalhadora) e que, portanto, a dialética é essa interação política que nos permite uma visão ampliada da realidade. Promover o pensamento dialético, em prol da emancipação humana, não é tarefa fácil. Fácil é morrer de overdose! Parafraseando a canção de Cazuza “Ideologia”, eu digo que meus heróis ainda vivem, apesar da overdose… eh, meus amigos estão no poder.

Ao refletir sobre como estamos interagindo, enquanto classe trabalhadora, sem idealização, com respeito ao pensamento divergente, através de uma abordagem de vários pontos de vista, inserida na luta de classes, nessa escuta atenta em que não há “dono da verdade”, estamos nos ajudando (sendo solidários) no enfrentamento das violências e na promoção da saúde e da intersetorialidade. Assim, dizer que não há um PPP na escola, ainda que digam que há um “PPP antigo” é agir na ruptura do antigo e abrir espaço para o novo. Não quero, com isso, desprezar a história, apagando os esforços anteriores, e sim enfatizar o momento presente, com as pessoas de hoje, na superação do caráter compensatório e assistencialista da EJA no agora, com a firme intenção de emancipar a classe trabalhadora. Tenho um profundo respeito por quem pensa diferente, porém, respeito ainda mais os que não se furtam ao debate franco e aberto, sem paixões, com o objetivo de fazer boas sínteses, ainda que provisórias.

[1] Disponível em: https://drive.google.com/file/d/1R7Eg1xBkL7dWTjK-Q28h0BRhuqhD6bFs/view?usp=share_link

[2] GADOTI, M. Pressupostos do projeto pedagógico. Anais da Conferência nacional da Educação para Todos. Brasília: MEC, 1994. Disponível em: https://repositorio.usp.br/directbitstream/60b90f87-e2ec-44d3-8c2a-2d5555706aaa/Pressupostos%20do%20projeto%20p… Acesso em: 29 abr 2023.

[3] RUMMERT, S. M. Educação de jovens e adultos trabalhadores e a produção social da existência. In: CIAVATTA, Maria; TIRIBA, Lia (org.). Trabalho e Educação de Jovens e Adultos. Brasília: Liber Livro; EdUFF, 2011. p. 137-163.

[4] SILVA, Tiago Dionisio da. A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS TRABALHADORES NA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO: DESTITUIÇÃO DE UM DIREITO. Disponível em: https://periodicos.ifsc.edu.br/index.php/EJA/article/view/3039

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DIZEM POR AÍ, NOS ESPAÇOS DE EDUCAÇÃO DE JOVENS, ADULTOS E IDOSOS… (Versão 6.0 – revista e ampliada)

por Roberto Eduardo Albino Brandão

 

A educação é capaz de dominar ou de libertar, diz a história

“A Eja” é direito, diz a gramática

“O Eja” é gasto, diz a elite do atraso

A escola pública sofre com a precarização, diz o trabalhador

A escola privada reproduz privilégios, diz a burguesia

Lutar pela escola unitária, diz o comunista

Premiar conforme os méritos pessoais de cada indivíduo, diz o secretário

Escola é lugar de todis, diz a constituição

70 milhões de brasileiros ainda não concluíram a Educação Básica, diz a matemática

Fome cresce no mundo e atinge 9,8% da população global”, diz a ONU

Escolas reproduzem a violência estrutural de forma acrítica, diz a sociologia

O sistema capitalista “destrói a natureza, destrói o trabalho e destrói a classe trabalhadora”, diz o XVII ENEJA

É possível um capitalismo humanizado, diz o social-democrata

Precisamos aumentar os lucros, diz o capitalista

Formar políticos que reproduzam nossa ideologia, diz (e age) a classe dominante

Otimizar (no sentido de fechar) turmas de Eja, diz o político neoliberal

Vamos cumprir as ordens, sem questionar, diz o gestor da educação

Os alunos da Eja não querem nada, diz a direção da escola

Levei um tapa na cara do “poliça”, diz o estudante da Eja

Não consigo arranjar emprego, diz o cidadão

Desisti de procurar emprego, diz a pessoa em situação de rua

Por que um garoto (preto) anda nas ruas da favela a essa hora, diz o policial

É o mistério e/ou vontade do divino, diz o religioso

– Professor, já buscou atendimento profissional em saúde mental? Pergunta a coordenadora pedagógica

Tratar os sujeitos com remédios modernos, diz (e lucra) a indústria farmacêutica

Tratar a sociedade do consumo com consciência de classe, diz a psicologia histórico-cultural

Capitalismo é a doença, necropolítica é um dos sintomas, diz a ciência

É assim mesmo, não adianta lutar, diz a professora conservadora

Só a luta muda a vida, diz a professora (da Eja) militante

Não temos pernas para movimento de massa, diz o pesquisador da Eja

Temos muitos pesquisadores da Eja para movimentar as pernas, diz a massa

Vamos estudar coletivamente e discutir nosso projeto político pedagógico, diz o professor comprometido com a emancipação da classe trabalhadora

Cresce a revolta popular e o ódio de classe na direção da REVOLUÇÃO, diz o movimento social…. ops, isso não pode dizer!

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RELATO DE UM PROFESSOR SOBRE EDUCAÇÃO PARA DEMOCRACIA EM UMA ESCOLA PÚBLICA, COM ÊNFASE EM SUA PARTICIPAÇÃO NO CONSELHO ESCOLA-COMUNIDADE – CEC

(ordem cronológica de acontecimentos – atualizado em 23/05)

17/05/2022 – Fui comunicado verbalmente, pela diretora (presidente), que a reunião do CEC na escola, prevista para o dia seguinte (18/05 – quarta-feira – 17 às 18:30h), para tratar do PPP, foi adiada para dia 07/06/2022 (terça-feira – 16 às 17:30h), sem consulta aos representantes do CEC, em razão dela (a presidente) estar “atendendo turmas no horário da reunião”. Tal decisão de adiamento, embora justificada, corroborada pelo caráter “consultivo” e não “deliberativo” do CEC, nos coloca a reflexão sobre até que ponto as decisões individuais (gestão pública) podem sobrepujar os acordos coletivos do CEC (governança). O TCU (Tribunal de Contas da União) faz importante distinção entre gestão pública e governança: “[…] enquanto a governança é responsável por estabelecer a direção a ser tomada, com fundamento em evidências e levando em conta os interesses da sociedade brasileira e das partes interessadas, a gestão é a função responsável por planejar a forma mais adequada de implementar as diretrizes estabelecidas, executar os planos e fazer o controle de indicadores e de riscos” (Fonte: <https://portal.tcu.gov.br/governanca/governancapublica/governanca-no-setor-publico/>). Nesse sentido, penso que a gestão democrática, através da governança realizada pelo CEC, encontra-se ameaçada, uma vez que não há, minimamente, respeito aos acordos estabelecidos. E você professor(a), o que acha disso?

09/05/2022 – Eu e a prof. suplente fomos convocados, pela diretora da escola, para uma reunião de emergência. Ao entrar na sala da direção, fomos informados tratar-se de tomada de ciência, consignada em ata, de uma determinada professora que, supostamente, não estaria cumprindo sua função pedagógico administrativa. Na ocasião, deixamos claro nosso posicionamento ético político de não emitir qualquer opinião e/ou parecer sem antes ouvir a referida professora.

05/05/2022 – Assembleia (virtual agendada para 10h) para eleição dos membros do Conselho Escola Comunidade – Segmento Professor, que participarão do Fórum Municipal de Educação e do Conselho de Alimentação Escolar. Fui convocado pela CRE com 21 horas de antecedência. Algumas CRE não se fizeram representar. Coloquei meu mandato a disposição para a eleição do representante da SME junto ao Fórum Municipal de Educação, porém não fomos eleitos. Durante a apresentação, coloquei a contradição entre a representação de fato e de direito, onde todos/as concordaram.

03/05/2022 – Segunda reunião (agendada para 16h) oficial do CEC na escola. Antes do início da reunião, a presidente me pergunta o que seria isso, apontando para meu gravador pessoal. Antes que eu pudesse explicar o objetivo da gravação, a presidente, de forma intempestiva, retira-se da sala, verbalizando que ligaria para a chefia, para saber se eu poderia utilizar meu gravador na reunião do CE. Ao retornar à sala, a presidente informa que não autoriza a gravação de sua voz e pergunta aos presentes se mais alguém também não autorizaria. Apenas a responsável de uma das alunas (menores), que não é membro do CEC, acompanhou a presidente, no sentido de não autorizar a gravação de voz da sua filha. Os demais membros do CEC manifestaram-se, alegando que não teriam objeção a gravação. Tentei explicar que a gravação teria o único propósito de registrar minha fala/participação, e possibilitar o relato (extraoficial) para o segmento (professor) do qual represento, justificando que a ata (oficial) não é divulgada, o que me parece uma dificuldade em se atender ao princípio da publicidade inerente ao serviço público. Expliquei também que a suposta “autorização” não se faria necessária, pois tratava-se de uma reunião em um espaço público, cuja divulgação/transparência é do interesse de toda comunidade escolar. Em face da ameaça, por parte da presidente em cancelar a reunião, caso eu insistisse na gravação, o que causou comoção entre os presentes, diante do impasse, resolvi me calar e não assinar a referida ata. Pontuei que é uma tarefa difícil participar e, ao mesmo tempo, efetuar o registro da reunião, principalmente em uma sala escura (com apenas uma lâmpada funcionando). Tal dificuldade é expressa nas interrupções dos diálogos, por solicitação da presidente, na qualidade de relatora, em razão de não acompanhar a velocidade das narrativas verbais e transcrevê-las na ata, fazendo com que os presentes permaneçam em silêncio até que a relatora conclua a escrita das falas. Além disso, ao final da reunião, há um aligeiramento para a leitura e assinatura da ata, o que causa dificuldade em atentar para possíveis correções do texto escrito. Ato contínuo, seguiu-se a sugestão de pauta que apresentamos: A) PPP (método e tempo disponível): a presidente do CEC informa que já possui os alunos representantes do Peja de cada turma, porém não pode colocar no CEC sem que eles tenham sido eleitos. Para resolver isso, ela apresenta uma “brecha”, em utilizar a vaga ociosa da associação de moradores para colocar uma responsável (de um estudante menor) que também é estudante do Peja. Coloquei 2 sugestões metodológicas para pensarmos nosso PPP, de forma participativa. A presidente sugere incluir a coordenadora pedagógica, que já possui um esboço de PPP, deixando esse ponto de pauta para uma outra reunião (extraordinária) específica; B) Busca ativa (análise de conjuntura): presidente justificou o motivo pelo qual as cartas não foram enviadas e o cartaz não foi confeccionado. O retorno da busca ativa está sendo satisfatório; C) Recursos financeiros disponíveis em 22 de março (início do mandato) e gastos até a presente data, incluindo a recente pintura na escola: presidente informa que pode dar ciência, porém não precisa consultar o CEC para decidir os gastos da escola. Informa também que a pintura da fachada inclui os estudantes do Peja; D) Mural do CEC e mural da gestão: sugeri 3 tipos de prestação de contas. Uma da gestão para a CRE (que já se encontra disponível no mural). Uma do CEC (informando os objetos dos gastos, ao invés do fornecedor, bem como os montantes recebidos). Uma para os estudantes menores, com a transposição didática necessária; E) Fim do caráter deliberativo do CEC: ficou para a próxima reunião; F) Laicidade da escola pública: explicação da denúncia que a escola sofreu, sobre a Páscoa, bem como discussão sobre celebração do dia das mães.

30/04/2022 – Primeira reunião remota (sábado – 9 às 10:10h), do segmento professor na escola. Cinco professores presentes, representativos de todos os turnos da escola. Reforçamos os princípios contidos na carta de compromisso dos professores candidatos ao CEC. Estabelecemos como ações prioritárias, do segmento professor: 1 – Dinamizar a construção de um projeto político pedagógico – PPP que contemple verdadeiramente todas as vozes da nossa comunidade escolar; 2 – Cobrar um maior engajamento da escola na busca ativa; 3 – Fiscalização das contas da escola; 4 – Maior transparência da gestão da escola e do CEC. Definimos os seguintes assuntos para serem incluídos na pauta da próxima reunião do CEC: A) PPP (método e tempo disponível); B) Busca ativa (análise de conjuntura); C) Recursos financeiros disponíveis em 22 de março (início do mandato) e gastos até a presente data, incluindo a recente pintura da escola; D) Mural do CEC e mural da gestão; E) Fim do caráter deliberativo do CEC; F) Laicidade da escola pública. Sugestões para a próxima reunião do segmento, em maio/2022, de forma remota: sexta – 21 às 22h ou dia da semana – 17:30 às 18:30h.

27/04/2022 – Primeira reunião dos representantes do CEC da CRE. Foi convocada pela CRE, com 24 horas de antecedência, sem comunicação prévia de pauta. Iniciou-se com atraso de 16 minutos. Os 2 pontos de pauta, trazidos pela CRE, foram a questão do cartão benefício para os estudantes e o “erro” da inclusão do caráter deliberativo na PORTARIA CONJUNTA SUBAIR-SUBG Nº 02. Na visão da CRE, o CEC é para “aconselhar”, sendo importante o respeito e a urbanidade nas relações pessoais. Me coloquei, ao final, pontuando que a democracia participativa precisa avançar muito na escola pública, sobretudo com o retrocesso representado pela retirada do caráter deliberativo do CEC. Somos representantes de direito, mas até que ponto somos representantes de fato? Coloquei a pergunta para reflexão de todos, para ser respondida na próxima reunião: Como produzir um PPP de fato, que dê conta do saber, do fazer e do querer de todos os membros da comunidade escolar? Ao solicitar cópia da ata, que foi assinada por todos os presentes, a mesma me foi negada. Nesse mesmo dia, foi publicada RESOLUÇÃO SME nº 322, que prorroga até 31 de dezembro de 2025 o mandato dos membros do CEC.

13/04/2022 – Publicação no D.O., retirando o caráter “DELIBERATIVO” da PORTARIA CONJUNTA SUBAIR-SUBG Nº 02. Mais do que uma simples retificação, suprimindo uma palavra, tal alteração modifica a essência do papel dos CEC para o fortalecimento da democracia nas escolas. Em meu ponto de vista, isso significa um retrocesso, na medida em que o diretor, por exemplo, estaria desobrigado a acatar a definição das prioridades para aplicação dos recursos financeiros, realizada pelos representantes eleitos do CEC, em face do caráter “consultivo”, e não deliberativo/decisório. Além disso, como fica a tarefa de “receber e movimentar os recursos oriundos dos convênios e programas, […]” (Art. 4º – IV), previsto na RESOLUÇÃO SME Nº 1305, de 01/10/2014, se a portaria que dispõe sobre o CEC não prevê seu caráter deliberativo? Enquanto servidores públicos, só podemos fazer ou deixar de fazer o que está previsto em legislação própria. Portando, S.M.J., trata-se de uma clara contradição entre o “caráter consultivo, fiscalizador e mobilizador, […]” e a movimentação da conta bancária (conjunta) por parte do Vice-Presidente e do Terceiro membro do CEC. O exercício da cidadania política e social, sobretudo através de instâncias participativas como o CEC, deveria resultar em ampliação das capacidades coletivas de tomada de decisão, por parte do Estado, e não em sua restrição. Mas isso é o que eu penso. Resta saber o que a comunidade escolar, particularmente o segmento professor, o qual represento, pensa a esse respeito.

12/04/2022 – Embora a convocação para participar da reunião na coordenadoria regional – CRE, feita pela diretora da escola, tenha sido para “posse do segmento professor representante do CEC”, fui surpreendido com o verdadeiro motivo dessa reunião. Tratou-se da eleição (de professores) dos territórios e da CRE. Fui inserido em um pequeno grupo de 10 unidades escolares – UE e, após uma breve conversa sobre os desafios do CEC, fui indicado para representar esse grupo de professoras, em nosso território. Durante a apresentação do CEC, feita por representante da CRE, perguntei sobre qual dispositivo legal era o Art. 1º do slide apresentado. A representante não soube informar naquele momento, mas que logo responderia de qual dispositivo legal tratava-se o slide. Informei que o motivo da pergunta era porque foi suprimida a palavra “deliberativo”, caso o dispositivo apresentado fosse a PORTARIA CONJUNTA SUBAIR-SUBG Nº 02 (31/03/2022), e que ela considerou apenas o caráter “consultivo, fiscalizador e mobilizador” do CEC. A representante da CRE concluiu a apresentação e retirou-se da sala para sanar a dúvida do professor. Ao retornar, ela informou aos presentes que, de fato, tratava-se da citada portaria 02, mas que estava aguardando uma resposta da SME sobre o caráter deliberativo do CEC. Ato contínuo, no grupo em que eu participava, a referida representante da CRE informou que não era de “má fé” que a palavra foi suprimida, e que a portaria 02 não revogou a 01, e que, segundo ela, não continha a palavra “deliberativo”. Mostrei que a portaria 01 foi revogada sim, pela portaria 02 citada. Minutos depois, sem reconhecimento do “equívoco” na apresentação do slide, a representante da CRE informa que a SME baixará uma medida esclarecendo em qual(is) situação(ões) o CEC é deliberativo. Foi pedido que os representantes dos diferentes territórios se candidatassem para a eleição da representação da CRE junto a SME. Eu e mais 5 professores(as) nos candidatamos e tivemos 30 segundos para falar, para em seguida fazermos a eleição aberta. Falei, por último, entre outras coisas, que a democracia na escola precisa avançar, sobretudo através de uma participação efetiva do CEC, na elaboração do PPP das escolas, enaltecendo o princípio da impessoalidade e da democracia participativa. A primeira votação foi cancelada, pois havia professores que votaram em mais de um candidato. Fui o mais votado em ambas as votações, e com isso fui eleito professor representante do CEC na CRE, junto com outro professor (2º mais votado). Já eleito, agradeci a confiança depositada, ratifiquei a necessidade de o CEC impulsionar o processo de democratização das escolas, argumentando que não faz sentido, por exemplo, uma escola com representação (de direito) de alunos do primeiro segmento regular (diurno) não ter representatividade (de fato) e/ou não representar os interesses dos alunos do Peja (noturno).

05/04/2022 – Primeira reunião oficial do CEC, recém-eleito na escola, com todos os segmentos. Embora não tenha sido consultado acerca do melhor dia e horário, compareci a essa reunião, que teve início pontualmente as 17:30h. Iniciamos com as apresentações, onde falei do meu orgulho de fazer parte desse grupo, sendo ex-aluno de uma escola pública e agora trabalhador dessa escola. A diretora distribuiu aos presentes cópia da PORTARIA CONJUNTA SUBAIR-SUBG Nº 02 (31/03/2022). Compartilhei com o grupo a RESOLUÇÃO SME Nº 1305 (01/10/2014), que especifica 17 atribuições do CEC (Art. 4º). Na eleição do vice-presidente e terceiro membro do CEC, indiquei a professora suplente, a qual rejeitou em razão de estar trabalhando (em turma) a maior parte do tempo. A presidente nata do CEC (diretora da escola) coloca a necessidade de o vice-presidente estar presente nos momentos de pagamentos aos fornecedores e/ou prestadores de serviço, caso a decisão do CEC corrobore com a carta de compromisso dos professores de não assinar cheques em branco. Coloquei os entraves nesse processo de acompanhar a execução financeira, nesse contexto em que dispomos nosso restrito tempo livre para dedicar ao CEC. O representante do segmento funcionário foi eleito e a professora suplente ficou como terceiro membro. Fui eleito para o conselho fiscal com mais 2 representantes do segmento responsável (pai e mãe de aluno). A presidente colocou em votação se a escola iria manter a divisão financeira (recursos federais), em 2022, entre: 60% custeio (material pedagógico/pequenos consertos) e 40% capital (bens inventariados/usado diretamente com aluno). Me abstive dessa votação, uma vez que não havia consultado meu segmento para essa tomada de decisão.

22/03/2022 – Fui eleito titular do CEC, pelo segmento professor da minha escola, ciente de que os/as professores/as votaram nos princípios e não na pessoa.

14/03/2022 – Eu e demais professoras candidatas ao CEC, em atitude inédita na escola, assinamos carta de compromisso, em clara subversão da ordem de se votar na pessoa, para se votar nos princípios/na ideia:

CARTA DE COMPROMISSO ASSUMIDO POR CANDIDATAS(OS) AO CONSELHO ESCOLA-COMUNIDADE

Nós, servidoras(es) públicas(os) da E.M. XXXXXX, pautadas(os) no princípio da legalidade, da moralidade, da publicidade, da impessoalidade e da laicidade, reafirmamos a importância de zelar pelo fiel cumprimento de nosso compromisso ético-político, junto ao Conselho Escola-Comunidade (CEC), independente do resultado da eleição para compor a representatividade do segmento professor.

Entendemos que o CEC é um espaço importante de aprimoramento da democracia na escola, sobretudo no sentido da democracia participativa, e não apenas representativa. Repudiamos decisões individuais e/ou em pequenos grupos, que não reflitam a ampla maioria da nossa comunidade escolar, bem como qualquer atitude discriminatória e/ou vexatória. Assim, prometemos não criminalizar movimento estudantil, não assinar “cheque em branco” ou qualquer outro ato “em confiança”, que não esteja devidamente documentado/formalizado e/ou divulgado, preservando o direito de sigilo somente quando a lei determinar.

Reconhecemos como valores que devem orientar todas as deliberações do CEC:

  • A transparência na gestão dos recursos públicos, em linguagem acessível aos diferentes segmentos da escola,
  • Cordialidade e equidade nas relações interpessoais,
  • A garantia do acesso público à informação, sem necessidade de requisição,
  • A garantia do permanente diálogo através da constituição de espaços efetivos de participação envolvendo todas e todos,
  • O respeito ao pensamento divergente e ao protagonismo estudantil.

Comprometemo-nos a seguir o diálogo franco e aberto com toda a nossa comunidade escolar, inclusive antecipando reflexões coletivas, acerca das demandas (em escala de prioridade) da nossa escola, com vistas à melhor eficiência e eficácia na aplicação dos recursos públicos que virão, bem como envidar esforços no sentido da construção coletiva (metodologia, planejamento, execução e avaliação) do Projeto Político-Pedagógico da escola.

22/12/2021 – A direção da escola comunica “término de requisição” (devolução do servidor para a coordenadoria regional), para mim e outra professora, sem apresentar um justo motivo e sem qualquer envolvimento do CEC. Tal decisão foi revogada, também à revelia do CEC, e fomos reintegrados a escola.

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CONFLITO DAS AVES: FÁBULA DE UM MUNDO REAL

por Roberto Eduardo Albino Brandão

Fonte da imagem: https://ebird.org/species/sibcra1?siteLanguage=pt_BR

Era uma vez 3 espécies de aves, que competiam por recursos e poder: A águia-americana (predador oportunista, seu alimento principal é peixe), o estorninho (ave pequena, intimida e expulsa outras aves de seus ninhos, levando ao declínio de espécies nativas, é onívora), e o grou-siberiano (ave de aparência majestosa, com plumagem branca e longo bico vermelho, seu alimento principal é peixe).

Nessa história, a Otan (Organização do Tratado da Avifauna Norte) foi criada pelas águias-americanas, junto com vários estorninhos, para combater (com força bélica) o modo de vida (e de pescar) dos grous-siberianos. Naquela época, os grous-siberianos pescavam e se alimentavam segundo suas próprias necessidades, período conhecido como URGS (União das Repúblicas dos Grous-Siberianos). Ao contrário, para viver o sonho das águias-americanas, elas sempre exploraram os estorninhos (e outras aves) para pescarem os maiores (em tamanho e quantidade) e melhores peixes possíveis. Posteriormente, com a dissolução da URGS, os grous-siberianos passaram também a explorar os estorninhos, e a Otan perdeu o sentido de sua existência. Apesar disso, as águias-americanas, seguindo a sua tradição de imposição de força e de ideologia, sobre os obedientes estorninhos, decidiram expandir a Otan por todos os biomas ao redor do habitat dos grous-siberianos, cercando-os. Quando um grupo de estorninhos, mais próximos dos grous-siberianos, ameaça fazer parte da Otan, os grous-siberianos invadem o território dos estorninhos, como medida preventiva, para garantir a sobrevivência/soberania dos grous-siberianos.

E o mundo (das aves) se pergunta, por que a guerra? Qual sua origem? Quem começou a guerra? Quais desdobramentos futuros? Quaisquer respostas, que se proponham a ir à essência e não na simples aparência, passa pela história da ornitologia (estudo das aves). Entre tantos pássaros, de poder e riqueza variados, a guerra é apenas um elemento (dos mais traumáticos e visíveis) desse conflito histórico entre 2 modos de viver: desigual/meritocrático/competitivo e outro igualitário/sem classe social/colaborativo. Nessa polarização, até mesmo o 01 das ararajubas (outra espécie de ave pequena, que vive ao sul, cujo nome em tupi significa “papagaio amarelo”), que não tinha nada a ver com a Otan, historicamente subserviente as águias-americanas, e combatente à antiga URGS, ao declarar “somos solidários aos grous-siberianos”, cria um incidente diplomático e confunde a opinião de governo com posição de Estado. Tal contradição nos exige, para além da reflexão ético-responsável, posição política frente a luta de classes, que se expressa em cada jovem ararajuba (preto e pobre) morto nas favelas cariocas, fortemente relacionada a conjuntura imperialista internacional. Entre águias/estorninhos, grous e pseudoararajubas (que prestam continência para as águias), Mario Quintana diria: “Eles passarão…Eu passarinho!”

Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência.

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